esses dias fui a duas aberturas de exposições aqui em recife, e embora seja uma atividade que eu faço com certa frequência, não é com frequência que elas me movem (ao menos não por inteiro). dia desses fui em uma sobre arquitetura e muitas das obras eram sobre o uso de cobogós (as pecas que mais me interessaram foram as que retratavam as diferentes perspectivas da luz do sol através dos supracitados cobogós, mas muitas das peças pra mim foram um pouco chatas).
voltando para as exposições que fui recentemente, sei que de qualquer forma teria me relacionado com aquelas obras, mas em especial, no momento que vivo, a sensação foi de estar mergulhando no mar, abrir os olhos e me deparar com uma visão clara de tudo que sei que existe abaixo da superfície, mas que nunca posso inspecionar minuciosamente (por nao ter tempo, e obviamente por não poder estar continuamente submersa).
deixarei imagens no fim desse post, mas as exposições foram: “toda vez que me perco de mim”, de luciana borre; “entre nós todo o indizível se faz presente”, de geoneide brandão; “tropical tropico”, de ana neves; e a minha mais querida “a fúria da fita vermelha”, de clara moreira, que me gerou o ápice de uma percepção que vinha se construindo desde a semana anterior (quando vi as três primeiras exposições).









não irei falar particularmente das obras, visto que não sou uma connoisseur de arte num geral, apenas uma amante, mas irei trazer algumas reflexões que tive, especialmente através de momentos de introspecção (e um delicioso ritual que criei comigo mesma de tomar uma taça de vinho após uma exposição, enquanto leio o folheto de apresentação), mas especialmente após a exposição de clara eu fiquei obcecada pela palavra: fúria.
não sei quantos de vocês tem o habito de encasquetar com uma palavra e ficar futucando ela no cérebro, mas eu tenho. desde criança. sou das letras afinal. enfim a raiva é um sentimento sobre o qual ja pensei muito, tanto por ter sido uma adolescente com muita raiva (e criada na igreja, o que causava mais raiva ainda), quanto por trabalhar com crianças e adolescentes e ver, diariamente, diria até que segundamente (por segundo hehe, irei usar as palavras da forma que eu quiser aqui), porque a cada momento do meu dia, estou em contato com alguém que está inteiramente tomado pela raiva.
e enfim eu poderia falar da raiva por horas, afinal eu ja tive meu período obcecada por destrinchar e dominar e conhecer e entender esse sentimento e as formas de lidar com ele, mas a palavra da vez é “fúria”.
e eu voltei da exposição com ela em mente, tomei minha taça de vinho, li o texto e fiquei entendendo o que era fúria dentro de mim, porque a palavra ressoava como se fosse algo presente, mas um rosto que eu ainda estava tentando deixar nítido. e aí eu entendi que fúria, pra mim, é a minha mulher. a minha mulher interna. ela é fúria. e não tem nada a ver com ira, ou raiva, ou agressividade. minha fúria me move, é meu motor. é paixão.
enfim, fiquei ruminando isso, deixando meu corpo absorver, encaixar o nome fúria bem perto de todas as outras coisas que estavam sendo absorvidas e metabolizadas, e dias depois, tive a oportunidade de estar presente em uma reunião de discussão sobre a obra de clara com a mesma, e ana neves (artista da outra exposição), e perguntei a ela sobre a fúria, compartilhei um pouco do meu entendimento e do que era fúria pra mim, e ela disse que pensava igual, que a fúria era uma força motriz, um guia, um impulso. ela ainda disse algo que ficou tatuado em mim, de uma forma que nunca vou esquecer: “a minha fúria ela é delicada, como uma fita”.
bem, é nisso que estou pensando, que a fúria é a força motriz que permeia tudo em mim. eu amo furiosamente, escrevo furiosamente, vivo furiosamente. a fúria é um querer e meu querer é avassalador.
essa foi uma percepção muito gostosa pois recentemente vivi algo que me remexeu inteira e o tempo todo eu sabia que quando eu me pusesse no meu lugar eu seria minha melhor versão e agora que dei um nome pra essa potência que tenho sentido em cada passo, tudo parece um pouco mais ardente, vermelho, mais eu mesma.
é engraçado porque eu tenho um joguinho que faço comigo mesma. é como se eu tivesse que conectar todos os elementos da minha vida com um fio. conectar não, identificar. eu sinto que o universo conectou elas, como se fossem pistas de uma caça ao tesouro e eu tivesse que ir seguindo. e são coisas simples, como por exemplo eu e jorge (meu melhor amigo) termos coincidentemente aberto ovos com gemas duplas na mesma semana, ou como eu pensar que fazia tempo que não comia um ferrero rocher e uma das minhas mais queridas ex alunas aparecer com um do nada e me dar de presente. ou, (e era o que eu pretendia citar), o fato de eu sentir que minha intuição desenterra coisas na minha mente em momentos antes de eu precisar delas. uma parada meio “momentos antes da desgraça acontecer” ou aquela trend do tiktok do “ela não sabia mas estava prestes a…” enfim, o fato de que mum timing PERFEITO, tipo 45 do segundo tempo, ou minuto 93 (pra quem torce pelo Barcelona tem uma conotação negativissima mas de alguma forma teor milagroso pra quem vê sem esse traço em particular), meu espirito me acordou no meio da noite e disse “você precisa reler “a paixão segundo g.h”.
a questão é que a fita vermelha furiosa de clara se juntou ao livro (que eu ja havia lido antes e ja reconhecia como um dos maiores livros já escritos, mas que eu ainda não sentia [em termos de associar a vivencias especificas]), e se tornou uma Grande Coisa que estalava os dedos na minha cara e dizia: percebe.
e enfim, eu acho que não existe mais nada no mundo, nenhum sentimento que acelere tanto meu coração, que me empolgue tanto, que me mova tanto quanto o perceber. e inclusive é minuciosamente por isso que o conto de minha amada mamãe Clarice, Perdoando Deus, me mova tanto. porque ela fala sobre perceber.
nesse meio tempo (perdi a cronologia mas meio que tudo aconteceu de uma vez, quem quiser ouvir gigantes audios do meu blábláblá sobre tudo isso, me manda uma mensagem), tive um sonho que me fez acordar as quatro da manha gravando um audio grogue pra mim mesma repetindo a frase que me tinha sido dita no sonho: “se bebo um copo cheio de tudo que sinto, bebo o amor sem sentir seu gosto. se eu bebo um gole de cada copo eu descubro todos os gostos que o amor pode ter”. acho que colocado aqui, sem contexto, pode soar lunático e sem sentido, mas juro que dentro da minha vida fez todo.
eu entendi tantas coisas.
e ai eu me senti eu. como se eu tivesse voltado de uma viagem e chegado em casa, e embora cansada, não existe nenhum sentimento como chegar em casa.
vim trazer essas reflexões que de certa forma são bem pessoais e que talvez não gerem precisamente identificação, mas que talvez seja bom de ler. vou deixar algumas fotos das exposições que fui, fotos de trechos do livro que reli, links dos instagrans (se é que esse é o plural) des artistas e enfim, espero que tenham gostado.
obrigada quem leu, voltar a escrever também é voltar pra casa.
o que tenho ouvido: Virgin by Lorde ; Cinema by The Marias ; Tropikal by Matheus de Bezerra